O fato de perder uma pessoa é
ruim em si, logo ficar triste é um direito e uma reação natural. A pessoa
enlutada precisa de tempo para assimilar a nova realidade, e organizar a perda
internamente. Quando alguém importante morre, é difícil simplesmente entender e
aceitar que ela não está mais lá, e por mais irracional que pareça, continuamos
desejando, no cotidiano, a manifestação daquela presença, esperando que ela
chegue do trabalho, sente-se à mesa de jantar, faça algum comentário, e até temos
o impulso de ligar para a pessoa que faleceu, de forma que somos obrigados a
lidar com a mesma perda constantemente, pois cada detalhe nos remete a uma
ausência, gerando diversos sentimentos como frustração, vazio, raiva, tristeza,
entre outros, e por vezes, chegamos a duvidar do nosso senso de realidade.
Espera-se que
com o tempo a pessoa comece a se desvincular destes hábitos, memórias e
expectativas, de forma que possa retomar a vida e relacionar-se novamente.
Então, em um luto saudável, o sofrimento e o humor depressivo surgem como uma
forma de enfrentar e assimilar a perda. O luto é elaborado e a capacidade para
criar novos vínculos continua preservada. Segurança, confiança nos vínculos,
capacidade para ser agressivo e se posicionar diante a vida, acabam sendo
elementos fundamentais para elaborar um luto de forma saudável, pois são
indicadores de maturidade emocional.
Contudo,
algumas pessoas não conseguem fazer este desligamento, e o processo de luto
parece não ter fim, gerando um desânimo constante, e uma falta de sentido
generalizada. Nestes casos é preciso investigar o que leva o indivíduo a
continuar investindo sua atenção, pensamentos e emoções, em uma relação que não
mais existe. Não raro, a pessoa falecida aparece idealizada, e qualquer
iniciativa para deixar a vida antiga ou recuperar a vitalidade é sentida como
uma forma de traição, sendo o resultado uma melancolia sempre presente.
Curiosamente,
na clínica, percebemos que o processo de luto tem mais haver com a vida do que
com a morte. Por exemplo, uma pessoa que têm uma tendência a centralizar todas
as responsabilidades pode experimentar a morte de outrem com uma culpa
excessiva. Outra, muito dependente pode viver a perda como um abandono,
rejeição e uma solidão desproporcional. Alguns podem até mesmo sentir que estão
sendo punidos de alguma forma. Enfim, cada um elabora o luto de uma forma
diferente, de acordo com sua própria história e questões pessoais.
Nestes casos,
a psicoterapia tem como linhas gerais entrar em contato com a perda, deixar que
surjam sentimentos ambivalentes que caracterizavam cada relação e diluir as
idealizações, para que a morte que o ocorreu na realidade externa, possa
ocorrer também na realidade psíquica, e no tempo certo devolver ao enlutado seu
direito à vida. E isto, obviamente, nada tem haver com esquecer, desmerecer ou
desrespeitar a pessoa morta, mas simplesmente viver a dor de forma
significativa e completa.