Na psicanálise, e na psicologia de uma forma geral,
é comum em algum momento na terapia, falar a respeito da vida familiar, focando
principalmente nas figuras parentais, independente da idade do paciente.
Trazendo a tona, conflitos e sentimentos que durante muito tempo ficaram
guardados. Muitos perguntam, “como algo
que me aconteceu há tanto tempo pode me afetar hoje?” ou simplesmente
dizem, “eu nunca vivi um trauma, não
entendo porque isto acontece”. A resposta a estes questionamentos é
relativamente simples na teoria, mas nem por isso sua resolução é automática.
Basicamente, como pessoas “maduras”, tentamos
utilizar nossa lógica para dar conta de sentimentos e sensações que não
conseguimos entender, ou seja, tentamos enquadrar um problema antigo na nossa
forma de pensar atual. Contudo, na época em que estávamos estruturando as bases
da nossa personalidade, tínhamos uma forma de apreender o mundo completamente
diferente.
Procure se colocar no lugar de um bebê ou de
uma criança pequena. Tudo é muito intenso, e cada momento pode ganhar
proporções infinitas, tanto em experiências boas quanto ruins. Logo, por mais
que estes momentos durem poucos segundos, ou minutos, a dimensão da experiência
é imensurável. Pensando assim, podemos entender o “trauma” como algo ruim que o
ego não foi capaz de suportar, devido à sua imaturidade. Assim, o que é
traumático para um bebê, pode não ser para uma criança de dois anos, ou seja, a
natureza do trauma é diferente de acordo com o estágio de desenvolvimento.
Para falar a verdade não precisamos ir muito
longe para perceber isto, pois mesmo enquanto adultos, muitas vezes nos
desestruturamos por alguns instantes, e só conseguimos nos acalmar por saber
que aquele sentimento ruim não vai durar para sempre, ou encontramos formas de
nos distrair para não pensar naquilo. Porém, no momento em que estamos vivendo
um medo, ansiedade, vergonha ou tristeza muito intensa, perdemos o chão por um
tempo. É claro que um momento ruim
ou bom não é o bastante para estabelecer um padrão, e é por isso que a criança
precisa de, além dos bons cuidados, estabilidade e repetição.
Assim, estes pequenos momentos vividos passam a
integrar e constituir o que será o ego do indivíduo, e os pais são fundamentais
na estruturação da personalidade de seus filhos, não apenas porque ensinam
coisas, mas também por garantir um ambiente seguro e proporcionar experiências boas
e repetidas, e para tal, não precisam saber sobre desenvolvimento infantil, mas
precisam ser capazes de desenvolver uma comunicação
genuína e afetuosa, respeitando o ritmo, as necessidades e a imaturidade de
seus filhos. De forma que traços como confiança, segurança, espontaneidade,
entre outros, começam a se estruturar logo nos primeiros meses de vida.
Por exemplo, uma mãe que não espera o bebê ter
forme, e está sempre fazendo a criança comer, está violando um impulso natural
do mesmo, impedindo o bebê de conhecer suas próprias necessidades. Ou uma
família que acredita que a criança não deve chorar por qualquer coisa, e por
isto desde bebê evita pegá-lo no colo, isto pode gerar na criança, a sensação
de que seu sofrimento não é importante. Ou talvez um pai que tem dificuldade de
elogiar ou ser carinhoso, pode acabar sendo severo em demasia, criando uma
criança insegura, mas ao mesmo tempo super exigente. Enfim, diversos são os
exemplos, nos quais o padrão de cuidado pode afetar o desenvolvimento emocional
da criança.
Contudo, vou terminar o texto em “defesa” dos
pais, que em geral, amam, cuidam e
fazem sacrifícios pelos filhos, pois não podemos esquecer que muitas vezes os pais,
também foram filhos que passaram por dificuldades, e por isso tem seus “pontos
cegos”, mas não são pais ruins, pelo contrário, são pessoas de valor e
preocupadas, que desejam o melhor para seus filhos. E talvez, podemos ser
humanos e únicos, justamente porque temos falhas.
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